Neste momento,
Sou alguém que planta flores...
Num jardim fora do tempo.
As poesias aqui postadas são de autoria de Eliane Sgaria Friedrich, as mesmas podem ser reproduzidas desde que referenciando a autora
terça-feira, 14 de julho de 2015
Uma de minhas "cenas" autisticas...Momento banho.
...Há, se eu pudesse lavar a alma; não tenho culpa, mas vivo pedindo perdão. Quando me aborreço de fato,aí sim, agradeço! Preciso acreditar que não é em vão: ....Quando ele sai do banho há uma lagoa e me vejo sem bote, dos cabelos escorrem águas pelo pescoço, a camista fica molhada e ele ri, veste o calção com as pernas muito mal enxugadas e calça os chinelos, sai... corre, gira, pula, grita, bate-se... Seu mundo é uma orquestra desafinada; são tantos gritos, ruídos e gemidos, tudo tão intenso e constante... Eu enxugo a lagoa, represando meus pensamentos enquanto ele já está criando sua cascata de refrigerante... Abre e fecha a porta da geladeira em vezes quase incontáveis... Liga e desliga as luzes ao passar pelos interruptores, num vai e vem frenético por todas as peças da casa; corre ao pátio ao ouvir sons de moto, avião ou helicópteros, retorna pega objetos e gira com eles em velocidade, coloca de volta no lugar, pega outro e, aquilo não tem fim... Volta a tomar refrigerante, outra cascata do copo a mesa, da mesa a cadeira, da cadeira ao chão e ele e se assusta com a minha atitude e tenta limpar... Prá que? Agora tenho ainda um pano que era novinho e limpo para torcer...( rsrsrssss) Corre, bate forte contra um móvel, imóvel estou eu... quando penso ter terninado , olho para o outro lado e o chuveiro está ligado e tudo vai se repetir... Preciso acreditar que não é em vão... Fico mais atenta, enxugo-lhe, passo o secador sobre os cabelos evito a lagoa, ajudo a vestir-se. corro na frente e sirvo o refrigerante... evito a cascata, Guardo o refrigerante e evito a função do abrir e fechar da geladeira... Ah, os interruptores... estes, me resta pensar que soltam vagalumes e deixo-os à piscar... Enquanto ele grita e corre no seu ritual frenético eu tento achar um tempo p/mim. Já lavei a alma... tudo é riso, sorriso... amanhã é outro dia.
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